O Primo Basílio, de Eça de Queirós – Estruturas da existência

2019-05-06

O Edge Arts organiza um curso de 4 sessões pós-laborais sobre a obra de Eça de Queirós, O Primo Basílio, no mês de Maio.
Paulo José Miranda guiará as sessões que terão uma hora cada, onde se analisará as estruturas existenciais que ardem neste livro.

“A multiplicação do desejo acabará sempre, no seu melhor, numa frase assim: “E outro que viesse seria o mesmo. Sentia-se farta dos homens! Estava capaz de tentar Deus!” De facto, uma vez caídos na multiplicação do desejo, nenhum homem (ou mulher) nos pode salvar, só Deus. Multiplicar o desejo é aumentar o nada que somos, é experimentar mais e mais o esvaziamento do prazer, o esvaziamento de nós e de um sentido que permaneça. Por isto mesmo, o nosso tempo é um tempo de muito mais nada do que os tempos anteriores. Vivemos no tempo de uma multiplicação máxima do desejo. Eça de Queirós, na sua genialidade, via e previa isto muito bem. Só o desejo de Deus pode pôr fim à multiplicação desmedida do desejo. Só o desejo ao que nunca muda, ao que permanece, pode fazer com que o prazer seja durável, permanente e acabe com esta multiplicação de nada. Eça vê isso muito bem, através do personagem maravilhoso, que é Leopoldina. Caídos nas garras da multiplicação do desejo, tudo nos aborrece, torna-se muito difícil que os prazeres que o desejo nos promete não sejam logros. Um contínuo desfilar de logros, uns a seguir aos outros. O desejo é por natureza adito, quer mais, sempre mais, de modo a renovar a sensação inicial, que já não se consegue recuperar, como em todas as adições.”