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“Este projeto veio no seguimento da pesquisa que tenho vindo a desenvolver sobre o conceito de topofilia. Tendo por base uma reflexão sobre este fenómeno, fui ao encontro de pessoas de várias nacionalidades que moram em Lisboa (e arredores) e colecionei imagens que refletem não só o seu conceito de “casa”, mas também a sua ideia de casa nesta região. Pretendi reunir imagens que registassem a presença e o ponto de vista de outras culturas nesta cidade, procurando abranger a maior diversidade possível.
A cada pessoa foi pedido que colaborasse com uma imagem que representasse para si a ideia de “casa” (não impondo qualquer restrição geográfica) e que indicasse o lugar em Lisboa que considera como tal – acompanhadas de um texto descritivo. A primeira parte do projeto foi reunida numa edição de autor e a segunda na série de fotografias que compuseram esta exposição.
Com este projeto, propus uma reflexão sobre a forma como um indivíduo que mora num lugar, que não será o de sua origem ou do contexto em que cresceu, o habita e como o integra ou não como seu. Interessou-me também, as várias vivências que resultam deste deslocamento: o que leva alguém a considerar uma cidade que se afasta da sua cultura e do local onde cresceu como a sua “casa”; ou, de forma oposta, o porquê de alguém sentir que está permanentemente no espaço errado – que não comunica com a sua identidade e com o contexto do local de onde veio.
“Se um lugar se pode definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode definir-se nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá um não-lugar. A hipótese aqui defendida e que a sobremodernidade e produtora de não-lugares, quer dizer, de espaços que não são eles próprios lugares antropológicos e que, contrariamente à modernidade baudelairiana, não integram os lugares antigos: estes, repertoriados, classificados e promovidos a “lugares de memória”, ocupam nela uma área circunscrita e específica.(…)”[1]
No caso de uma disparidade cultural significativa, poderá Lisboa funcionar como um “não-lugar” para algumas das pessoas que aqui moram, com culturas completamente diferentes, mesmo nos espaços considerados “lugares” segundo a definição de Marc Augé – “identificativo, relacional e histórico”? No sentido em que não existe um reconhecimento e uma identificação desses lugares – muitas vezes efémeros, de passagem; e, por outro lado, porque pode não existir uma real integração dessa pessoa neste lugar, o que faz com que exista a sensação de que está em modo transitório sem se inscrever no espaço em que se encontra.
“Na realidade concreta do mundo de hoje, os lugares e os espaços, os lugares e os não-lugares, emaranham-se, interpenetram-se.
A possibilidade do não-lugar nunca está ausente seja de que lugar for. O regresso ao lugar e o recurso de quem frequenta os não-lugares (e sonha, por exemplo, com uma residência secundária enraizada nas profundidades de um solo natal). Lugares e não-lugares opõem-se (ou chamam-se) como as palavras e as noções que permitem descrevê-los.”[2]”
[1] Marc Augé, “Não-Lugares – Introdução a uma Antropologia da Sobremodernidade” Letra Livre, 2012, p. 69
[2] Marc Augé, “Não-Lugares – Introdução a uma Antropologia da Sobremodernidade” Letra Livre, 2012, p. 92
Filipa Reis, 2015