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Introspetiva Nuno Vasa | o jogo possível

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DE 2012-09-27 A 2012-11-29

NUNO VASA | o jogo possível

             Introspetiva reuniu pela primeira vez num mesmo espaço de exposição um conjunto de obras produzidas por Nuno Vasa entre 2003 e 2012. Mais do que proporcionar uma abordagem retrospetiva ao trabalho desenvolvido durante a última década, esta seleção propôs ao visitante uma aproximação a um percurso que se tem vindo a caracterizar pela recorrência temática das questões que atravessam a obra do artista, mas também pela expressão multiforme que, de certo modo, dificulta uma definição unificadora daquilo que é o trabalho de Vasa. Escultura, performance, pintura, vídeo e design diluem-se num percurso artístico que, mais do que proporcionar um dar a ver, procura efetivar-se como um dar que pensar, a si mesmo e ao outro.

Os distintos núcleos de exposição, que desde logo poderíamos distinguir nesta curadoria de Felisa Perez e Nuno Vasa para a inauguração do espaço Edge Arts, confluíram, assumidamente, num só tempo/espaço – o do observador. Este, por sua vez, foi convocado a habitar o lugar/fronteira onde a obra de Vasa parece fazer questão de permanecer – a terra de ninguém, indefinível, que separa aquilo que é vida daquilo que é arte. O trabalho de Nuno Vasa tem essa capacidade de desdobrar um real, imediatamente percetível, numa multiplicidade de alternativas a esse mesmo real; jogo em que o visitante se destaca como matéria indispensável não só à atualização e resgate de uma potencial significação, mas como à própria ativação “mecânica” de algumas peças.

Exemplo claro desse compromisso que parece estabelecer-se entre os projetos de Nuno Vasa e aquele que neles participa, algo que podemos classificar como um claro e transversal apelo à ação performativa do espectador, é a peça “Cinema” (2004 / Coleção António Gomes de Pinho), em que a interação do visitante sobre a obra permite revelar o mecanismo que dá origem a esse engano da retina que anima a nossa ilusão que é a sétima arte. A mesma lógica de convocação do observador manifesta-se de forma assumida em “Auto-Retrato” (2005), peça que joga com a ideia de uma possibilidade de significação infinitamente plural (virtualmente o potencial significado daquilo que a auto-representação significa para cada um de todos nós), mas que apenas permite que a atualização do seu sentido se realize na presença física do observador, impondo-o, assim, como material plástico – o si mesmo como condição sine qua non da sua própria e individualizada perceção da matéria artística.

O que de um modo menos óbvio se pode verificar noutros trabalhos como “O Peso Afecta a Linha Recta” (2005), “If i Knew You Were Coming I’d Have Painted Myself” (2005 / Coleção Comunidad de Madrid) ou “Loading Images” (2006) é esse jogo que o artista desenvolve com o corpo do espectador. Da frieza ou minimalismo que aparentemente seriam suficientes para caracterizar a abordagem estética de Vasa, a sua obra impõe ao espectador uma relação de envolvimento; uma ideia de compromisso que apenas resulta após mergulharmos nesse espaço vazio que, num primeiro contacto, nos revela a superfície da sua expressão. Interação que nos desperta uma consciência de jogabilidade entre espectador, arte e artista; relação essa que se pode confirmar em peças como “Kiss Me With Red Lips And I’ll Never Be The Same” (2006) ou com a série “Game Over” (em desenvolvimento).

“Jantar Possível II” (2003), “Casa de Contar Segredos” (2004) e “Solitária” (2004) são esculturas que procuram transmitir o equilíbrio que se estabelece entre o homem, o outro e os regimes da sua experiência comum. São peças que hoje ganham uma outra atualidade e que acabam por anunciar o fator funcionalidade (ou o lado não funcional) dos dispositivos desenvolvidos por Nuno Vasa como mais uma dimensão que se deve acrescentar à «direção dominante» (João Lima Pinharanda) que caracteriza a sua obra e que, inclusivamente, este ano lhe valeu um Prémio POPS – Projetos Originais Portugueses, promovido pela Fundação de Serralves (com as peças “Clip Books” e “Estendal”).

“Oficina” (2012), desenvolvida como site specific para o espaço Edge Arts, é a peça que retira o visitante desse tempo/espaço do si mesmo, para o colocar em relação direta com o tempo/espaço de um outro. A instalação funciona como uma encenação de intimidade. É uma recriação do espaço privado de Nuno Vasa, onde, através de vários indícios, um conjunto de pistas e fragmentos biográficos, presente, passado e futuro se fundem num mesmo tempo – o contexto expositivo – corporalizando a tensão entre aquilo que é o espaço público e o espaço privado de cada um, reforçando essa ideia que a arte não mora em pedestais nem se encontra assim tão distante da vida.

O trabalho de Nuno Vasa vai-se afastando dos convencionados ismos, sobrevivendo e integrando-se numa dimensão muito própria que está plasmada neste conjunto de obras que procuram, essencialmente, produzir uma ação dialógica, realizando uma clara mediação entre a realidade da experiência do humano e o significado daquilo que, em termos formais e coletivos, é aceite, assumido e vivido como produto artístico. Esse é o grande desafio deste artista que encontra no jogo das possibilidades um caminho para a sua expressão que mais não é do que caminhar na direção constante de um encontro com o outro.

Mário Verino Rosado, 2012

 

Obras