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O Edge Arts em Junho de 2017 convidou a artista Joana BC a expor “aqueles que ouvem os sons (e os muitos gritos) do mundo”, no Espaço Amoreiras.
A exposição reuniu um conjunto de pinturas e esculturas, que ilustram uma “mitologia pessoal” da artista. Joana BC trabalha com materiais ordinários e objectos estranhos, considerados inúteis e manipula-os para que se tornem extraordinários. As histórias e as personagens criam realidades entre o invisível e o visível, entre o inconsciente e o real dos dias.
No dia 25 de julho o Arte Institute realizou um filme que documenta um momento em que a artista deu vida novas personagens que quiseram visitar o templo da exposição.
“não tenho grande chance… a vida gosta de desfilar estes materiais, objectos e criaturas na minha frente e eu não estou imune a tal festejo. Dou-lhes as boas-vindas.
Senti, durante muito tempo, que a minha pintura, no seu carácter bidimensional, se colocava na dimensão do sonho e do pensamento, enquanto que o meu trabalho escultórico se situava ao nível do real e era da dimensão do toque (e do jogo)! Interessava-me explorar as tensões entre esses dois mundos e, por isso, ‘profanava’ as pinturas com objectos, cortava as telas, deixava o mundo entrar nelas, impregnava-as de mundanidade… ui, o que eu lhes fazia! Recentemente houve um retorno à pintura de antes, sem esses artifícios. Manteve-se a escultura. Separaram-se as águas.
Tentando do esquecido fazer lembrança, trabalho maioritariamente com materiais ordinários e objectos estranhos, considerados inúteis, sem valor. Manipulo-os para que se tornem extraordinários (ou que, pelo menos, tenham essa oportunidade). Encontro-os, compro-os em feiras de velharias, agora até já me dão alguns… “ah, a Joana é capaz de querer isto…” Uma ou outra vez cometo uma extravagância e uso materiais mais corriqueiros, da secção das ‘manualidades’.
O meu trabalho consiste numa mitologia pessoal (de trazer por casa, caseira portanto). As histórias e as personagens surgem e dou-lhes a forma de que precisam para se tornarem vivas. Tento criar realidades que estão presas entre o invisível e o visível, entre o inconsciente e o real dos dias… e desta encenação da vida há ainda muito para fazer.
Nesta exposição, aqueles que ouvem os sons (e os muitos gritos) do mundo estão albergados no templo. Apresentam-se de uma forma no exterior porque todos sabemos que o exterior é a aparência das coisas. É no interior do templo que ganham a sua forma verdadeira porque sentem-se no domínio do sagrado e a transmutação pode ocorrer. Lá, nesse sítio, aparecem mostrando os seus poderes totais. Apresentam-se através da imagem pintada, contando as suas múltiplas histórias e viagens. Acreditam em idolatria, por isso aparecem na sua forma terrena, de invólucro, rodeados pelos seus objectos sagrados e oráculos. Às vezes mostram-se assim. É conforme lhes apetece.
Joana BC, 2017