A exposição da artista Maria Condado no espaço do Edge Arts em Lisboa apresenta uma obra inédita no universo do seu trabalho.
Maria Condado tem desenvolvido uma linguagem em torno da pintura e no sentido da leitura e interpretação de jardins enquanto construção e artifício de lazer do século XIX. Há séculos que os jardins têm uma importância vital no desenvolvimento das cidades e espaços de lazer, fortemente inspirados pelas ideias do Iluminismo. Em Lisboa temos o caso do famoso Passeio Público projetado pelo Arquiteto Reinaldo dos Santos entre 1764 e 1771, logo após o terramoto de 1755, que estava situado onde hoje se encontra a praça do Rossio e a praça dos Restauradores. Continha um traçado simples de uma alameda de trezentos metros de comprimento por noventa metros de largura. Foram também plantadas árvores ao longo desta avenida formando assim o primeiro jardim deste género: um jardim público. A grande maioria dos jardins pertenciam e eram usufruídos pelas classes mais abastadas. Mais tarde, e atendendo à evolução da cidade, o Passeio Público foi destruído para dar lugar a Avenida da Liberdade.
Maria Condado apresenta, dentro da linguagem da representação de jardins, uma obra inédita no seu percurso. Expõe O Lago, uma tela com nove metros de comprimento por dois metros e dez centímetros de largura instalada horizontalmente.
A instalação pensada pela artista acentua a representação do lago imaginário que estaria num dos jardins que conhecemos nas nossas cidades, mas apresentada num espaço interior, um antigo centro comercial que agora contém um centro de escritórios e um ginásio, com dinâmicas de circulação muito próprias e desafiantes para qualquer instalação de arte por não ser um espaço convencional. Como a obra se encontra no piso inferior, a obra pode ser vista a partir do piso superior onde se encontra a entrada. Uma vez no piso inferior, a obra revela-se no seu todo para demonstrar as técnicas que a artista tem empregue e desenvolvido ao longo destes anos: a autonomia da cor em relação à forma e o gesto. O gesto lembra-nos o movimento do Fauvismo (1905/1907) de Paris que se deixa definir pelo próprio nome. As cores são “Feras” para estes artistas não seguidores do impressionismo, como referiu Louis Vauxcelles, um crítico da altura. Mas Henry Matisse nas suas Notes d’un Peintre referiu o Fauvismo como uma “arte do equilíbrio, da pureza e da serenidade, destituída de temas perturbadores ou deprimentes”.
Em relação ao gesto como técnica empregue por Maria Condado e atendendo ao facto que as cores serem “feras”, nesta obra a marca da mão da artista torna-se muito evidente nos traços deixados, sugerindo toda uma flora que normalmente se encontra nos lagos destes jardins.
O gesto, diria, é uma das bases da obra desta artista. Do gesto nasce a forma de uma representação de um lago com cores fortes e enigmáticas.
Texto de Lourenço Egreja
Lisboa 2018