Que país traz consigo? Olhe para a etiqueta da camisola 

Numa ida às compras, a primeira preocupação é encontrar a peça de roupa desejada, que assente bem, que seja económica. Mas as etiquetas presas a essas peças fazem com que o nosso armário seja multicultural – os nossos casacos, calças e camisas vêm, na sua maioria, de muito longe. “Quais são os mapas do nosso armário e das nossas gavetas? Qual é o mapa desenhado pela indústria têxtil, pela globalização, capitalismo ou precariedade laboral? Qual é o mapa do nosso dia de hoje?”. As perguntas são da artista plástica Constança Saraiva que se propõe a cartografar o nosso armário, através de um atelier aberto de recolha de etiquetas de peças de roupa e de projectos alternativos.

A iniciativa, com várias fases, “convida os curiosos a explorar a paisagem imaginária criada pelo vestuário do nosso dia-a-dia” e, ao mesmo tempo alerta para o estado da indústria têxtil mundial. “Este projecto estava guardado na gaveta há alguns anos. Eu própria comecei a coleccionar as minhas etiquetas e foi uma vergonha. Tinha muitas da Polónia, Marrocos, Turquia, Índia, Bangladesh, China”, conta a artista plástica ao Life&Style, no primeiro dia de residência artística no Espaço Amoreiras, em Lisboa.

Ao nosso lado temos um mapa-mundo e já alguns pregos a ligar Portugal à China, fruto das primeiras etiquetas angariadas, e olhares curiosos. “A recolha de etiquetas é uma desculpa para falar com as pessoas, pô-las a pensar”, explica Constança Saraiva, actualmente a viver em Roterdão, Holanda, que encontra nos mapas não tradicionais “um veículo de informação interessante”. Uma outra parte do projecto é o arquivo das alternativas – uma recolha de projectos nacionais e sugestões para acabar com situações de precariedade e desperdício têxtil. Sensibilizar miúdos e graúdos Para promover a consciência e sensibilizar um público alargado, este projecto tem uma vertente itinerante: desde 24 de Setembro e até dia 1 de Outubro (dia da exposição final do projecto e de um debate com a professor de design de moda Ana Couto, a designer Ana Teresa Neves e os projectos Torcer Ideias e Fablab Lisboa), a artista irá percorrer vários espaços (escolas, jardins, associações) do bairro de Campo de Ourique, em Lisboa, numa rulote. É nesta carrinha – um projecto de Pedro e Teresa Pires, que desde 2013 tem como objectivo utilizar o interior de uma rulote como galeria de arte – que estão as várias caixinhas com etiquetas de roupa já recolhidas e se pretende que miúdos e graúdos dêem as suas opiniões. A rulote também vai estacionar em escolas, onde Constança Saraiva vai mostrar pequenos excertos de documentários sobre as fábricas de produção têxtil, “alguns um bocadinho fortes” – também o jornal norueguês Aftenposten  fez um destes documentários de sensibilização ( Fábricas de Roupa: Moda que mata ), e levou três bloggers de moda a uma fábrica têxtil em Phnom Penh, no Camboja.

 

Público